Os influenciadores Franklin Reis, Ramhon Dias, Nanam Premiações, Gaby Silva e Alexandre Tchaca estão entre as 24 pessoas que foram presas nesta quarta-feira (9), na "Operação Falsas Promessas 2". Eles são suspeitos de integrar um esquema de lavagem de dinheiro por meio de rifas ilegais nas redes sociais.
Conduzida pelo Departamento de Repressão e Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (Draco-LD), a ação foi deflagrada em Salvador, região metropolitana da capital baiana, São Paulo e outras cidades do interior do estado.
Durante a operação, foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão e seis medidas cautelares. A polícia também apreendeu cinco armas de fogo e 27 veículos, sendo 15 localizados em Salvador e 12 no interior. Entre os automóveis estão modelos de luxo.
Também foram recolhidos relógios de luxo, R$ 14 mil em espécie, celulares, munições e notebooks. A Justiça autorizou o bloqueio de até R$ 10 milhões por CPF ou CNPJ investigado, totalizando R$ 680 milhões em bens e valores relacionados ao esquema.
As investigações apontam que o grupo usava redes sociais para divulgar rifas de alto valor, com resultados manipulados para beneficiar integrantes da organização. Empresas de fachada e laranjas, pessoas eram utilizadas para ocultar a origem dos valores ilícitos. [Entenda mais abaixo]
Nanam Premiaçõe e Gaby Silva
Segundo a Polícia Civil, o grupo criminoso movimentou R$ 680 milhões. O casal de "rifeiros" José Roberto Santos, mais conhecido como Nanam Premiações, e Gabriela Silva, a Gaby Silva, é apontado como chefe do esquema.
Juntos, Nanam Premiações e Gaby somam mais de 250 mil seguidores em apenas uma das redes sociais. O homem costumava postar os vencedores das rifas que divulgava e a mulher mostrava fotos de viagens que fez com o marido.
Os dois foram encontrados em um condomínio de luxo, na Estrada do Coco, na Região Metropolitana de Salvador, onde moravam.
'Máquina de prêmios'
Ramhon Dias se apresenta como empresário e "máquina de prêmios" em uma das redes sociais, onde tem mais de 420 mil seguidores.
Em 2023, a Justiça da Bahia decretou a prisão temporária dele por causa de suspeitas de lavagem ou ocultação de bens, jogos de azar e organização criminosa.
Na época, o influenciador se pronunciou nas redes sociais e, em nota divulgada, disse que as acusações eram injustas. Ele também falou em "perseguição" e afirmou que os advogados provariam a inocência dele.
Em 2022, ele foi denunciado por espancar um jovem em uma briga de trânsito na região da Avenida Paralela. A vítima disse que ainda teve o celular quebrado pelo suspeito. Na época, o g1 tentou contato com o influenciador, mas não obteve resposta.
Em julho de 2024, ele foi baleado no bairro de Vale dos Lagos, em Salvador. Uma câmera de segurança filmou o momento exato do crime. O carro de luxo do influenciador, uma Land Rover, ficou com diversas marcas de tiros.
'Neka' e 'Abias'
Outro influenciador preso na operação foi Franklin Reis, que ficou famoso na internet com conteúdos humorísticos. Com os personagens Neka e Abias, ele conquistou mais de 690 mil seguidores nas redes sociais.
Em 2023, ele foi obrigado a fazer transferências bancárias para criminosos após ser sequestrado na praia de Itacimirim, na cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.
Policial influenciador
Um dos seis policiais presos na ação é Lázaro Andrade, conhecido como Alexandre Tchaca, que tem 169 mil seguidores nas redes sociais.
Alexandre Tchaca tem um podcast policial e foi candidato a vereador em 2024, mas não foi eleito.
Em 21 de março, ele usou as redes sociais para dizer que estavam tentando "armar contra ele" e que "a depender das cenas do próximo capítulos", ele "largaria nomes", mesmo sem querer, porque ele tinha que "cair atirando".
Ainda no vídeo, ele disse que desde novembro de 2024 havia recebido o informe de mandado de busca e apreensão para ele e outros policiais. Contou ainda que recebeu uma foto de um processo que corria em segredo de Justiça e confirmava o nome dele e de outros colegas.
No vídeo, Alexandre Tchaca afirmou ainda que não deixaria "ninguém acabar com a conduta dele".
Em nota, a Polícia Militar informou que nove policiais da corporação tiveram mandados de prisão decretados pela Justiça. Três deles são considerados foragidos.
A PM informou que todos os policiais envolvidos já respondiam a procedimentos administrativos instaurados anteriormente, com base em apurações preliminares. Após a formalização das prisões, os seis encontrados foram encaminhados à Coordenadoria de Custódia Provisória (CCP), em Lauro de Freitas, onde permanecerão à disposição da Justiça.
'Fábrica de sonhos'
Além deles, outras duas pessoas foram presas em Vera Cruz, na Região Metropolitana de Salvador, e Juazeiro, no norte do estado, por exercer papel central no planejamento e coordenação das atividades ilícitas do grupo em diferentes áreas.
Um deles foi o influenciador Josemário Lins, que tem mais de 650 mil seguidores, e mora foi encontrado em Juazeiro. Na biografia de uma das redes sociais, ele se considera "empreendedor" e diz que "a fábrica de sonhos".
Ainda nas redes sociais, ele divulgava rifas e fotos de viagens para os Estados Unidos e Dubai, além de carros de luxo.
Como funcionava o esquema
Segundo a Polícia Civil, com forte presença em Salvador e RMS, São Felipe, Vera Cruz, Juazeiro e Nazaré, o grupo operava por meio de uma estrutura sofisticada de transações financeiras, usando empresas de fachada e pessoas para disfarçar a origem dos valores obtidos ilegalmente.
De acordo com a polícia, policiais militares da ativa e ex-PMs faziam parte do esquema, oferecendo proteção, fornecendo informações privilegiadas e, em alguns casos, atuando diretamente como operadores das rifas fraudulentas.
O grupo usava redes sociais para divulgar rifas de centavos com prêmios de alto valor, como veículos de luxo, e atraía um grande número de participantes. No entanto, os sorteios eram manipulados e os prêmios frequentemente entregues a integrantes da própria organização, com o objetivo de legitimar o esquema e ampliar os lucros.
"A atuação da orfganização criminosa se dava essencialmente pelas redes sociais. Então, eles precisavam desses influenciadores para fomentar a venda dessas rifas ilícitas. Os policiais militares entravam nesse apoio e se beneficiavam dessa movimentação financeira. Há uma relação muito forte entre eles financeiramente e também eram o braço armado desse grupo", afirmou o delegado Fábio Lordello, diretor do Draco.
Em entrevista à TV Bahia, a defesa de Nanam Rifas e da esposa dele informou que irá se inteirar sobre o processo e sobre a motivação desse novo decreto, para tomar as medidas cabíveis.
Em nota, o advogado de influenciador Ramon Dias disse que ele está sendo perseguido e não tem ligação com o tráfico.
A Polícia Militar (PM) disse que colaborou com as investigações e que os policiais envolvidos já respondem processos administrativos instaurados anteriormente, com base em apurações preliminares.
O g1 tenta descobrir qual o papel detalhado de cada um dos investigados e o contato da defesa dos outros citados, mas não conseguiu até a última atualização desta reportagem. g1-Bahia